segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Neoliberalismo petista: Algumas reflexões sobre os 100 primeiros dias do governo Dilma



Os 100 primeiros dias de governo são fundamentais, é quando o governante constrói sua identidade, consolida suas alianças e solidifica a popularidade conquistada nas urnas, é quando ele pode finalmente mostrar a que veio e os rumos que seu governo irá tomar, é o momento até para se tomar decisões antipopulares, parafraseando Maquiavel é o momento de se fazer o mal de uma vez, habilidade imprescindível ao príncipe.
Partindo desse ponto a imagem que o governo Dilma construiu nos seus cinco primeiros meses é a de que ele será mais neoliberal que seu sucessor e o governo de FHC, complementando a guinada à centro direita que o Partido dos Trabalhadores empreende desde que chegou ao poder.
Começando com a atitude de uma subordinada sua. A chegada de uma mulher ao posto mais alto se mostra cada vez mais figurativa, assim como foi a eleição de Obama, elege-se um membro de uma maioria discriminada para mostrar que a democracia funciona, mas no final é apenas para enganar a população com uma falsa sensação de que qualquer um pode ser presidente.
Voltando ao assunto principal, a eleição de Dilma ocorreu da mesma maneira, uma vez eleita, tentando demonstrar que chegou o momento da mulher (e o Brasil se tornou uma democracia séria, embora retrocedeu uns 50 anos durante a última eleição por conta dos temas que pautaram o segundo turno) ela escalou várias mulheres para diversos ministérios, nesse caso, escalou Ana de Holanda (irmã do Chico) para o ministério da cultura, até aí tudo bem, o problema foi que após o início de mandato ela resolveu jogar oito anos de trabalho fora mudando a política de direitos autorais do ministério de creative comons para a de direitos reservados ligado às associações da industria cultural.
Isso causou um turbilhão de críticas, até petistas que diziam amém para tudo que o governo fazia de merda se postaram de forma contrária a essa mudança. Logo após foi a vez da batalha pelo salário mínimo, as centrais sindicais queria um aumento maior até 575 reais, o governo peitou e manteve o aumento em 545, a oposição querendo ver sangue apostou em 600 reais achando que as centrais sindicais ficariam do seu lado (a posição deste que vos escreve é a de defesa do valor do DIESE que é de 2000 reais).
Obviamente o aumento de 515 para 545 é irrisório, mal dá conta da inflação acumulada do período, e em um cenário de alta incessante de preços devido a fatores que escapa do controle governamental (existe sim um componente da inflação atual que é culpa da subserviência de nossa elite que prefere se aliar a uma multinacional do que peita-la e produzir mais para o mercado interno, mas na onda de aumento atual o que pesa mais é o aumento dos custos de alimentação e do petróleo, fatores externos), a tendência é que esse ganho não sirva para nada.

Ao mesmo tempo em que aprovava um salário mínimo irrisório o governo anunciou um corte de 50 bilhões de reais do orçamento, o montante é tão grande que supera qualquer corte feito durante o governo FHC, as contas externas do país estão combalidas devido à guerra cambial, o governo dos EUA está sabotando o país aos poucos e como recompensa temos que aguentar seu chefe vir aqui para tentar tomar posse do pré-sal, e assinar acordos que irão prejudicar ainda mais as contas do país.
Devido aos problemas da balança comercial, ou o governo corta gastos para pagar os juros da dívida interna (a famosa bolsa banqueiro) ou então vai tudo para o saco e o país de economia em ascensão vira um pária internacional. Desse modo o que resta é pedir amém aos EUA e aos banqueiros e cortar da população mais carente de um modo que faria inveja aos tucanos.
Para completar o pacote, foi anunciada a iniciativa do governo de privatizar os aeroportos, medida que renderá milhões a empresas privadas, principalmente após o governo investir milhões para a reforma desses terminais para a copa, resumo o povo paga e na hora de colher o investimento o dinheiro vai para as mãos de poucos. Privatização de aeroportos não custa lembrar é algo que somente países que foram bem a fundo no neoliberalismo fizeram como os EUA.
Politicamente falando, no entanto o governo Dilma tem colhido frutos, sua popularidade se mantém alta, mesmo com medidas tão controversas como essas, a oposição então nunca esteve tão neutralizada pelo governo na história desse país. Devido ao sangramento do DEM promovido pela saída de Gilberto Kassab e fundação de um novo partido o PSD que mantém os princípios políticos do DEM, mas tenta se aproximar do governo evitando a oposição cada vez mais ácida e sem norte da direita nacional, provando que quem leu o “Príncipe” foi o Kassab e não o FHC.
O Brasil caminha cada dia mais para se tornar uma democracia representativa sólida a exemplo de todas as democracias do mundo desenvolvido, nosso sistema caminha para um unipartidarismo no qual a maioria dos partidos defendem apenas os interesses do capital e medidas que tragam mais votos, escapando dos interesses ideológicos mais bem definidos entre esquerda e direita, para uma cada vez mais difusa ideologia do capital.
Nossa população assiste a tudo isso entorpecida pelo carisma lulista e pelo parco crescimento econômico, que mostra seus sinais de cansaço diante dos problemas da balança comercial e de nossa exportação de produtos primários.
A única certeza que podemos tirar desse início de governo é que vivemos tempos sinistros, com a longa tsunami econômica chegando mais próxima a cada dia que passa e o PT fez a escolha de ficar do lado dos banqueiros e não dos trabalhadores.
João Vicente Nascimento Lins 02/05/2011
Charge de Carlos Latuff

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