quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Todo apoio às ocupações de escolas pelos alunos em São Paulo


E.E Fernão Dias em foto do MTST

O descaso com a educação pública no Brasil é algo que parece estar no DNA da nossa burguesia nacional. O Estado brasileiro, e a consolidação do poder da burguesia nacional foram condições criadas muito recentemente em nossa história. A construção do Estado nacional se dá a partir da independência do Brasil de Portugal em 1822. A revolução burguesa é ainda mais recente, iniciando-se em 1930 e concluindo-se com o golpe civil-militar em 1964.

De comum, as duas efemérides têm a pouca participação da classe trabalhadora, configurando-se em processos feitos pelo alto, mas não totalmente alheios à base da sociedade; nos dois processos houveram revoltas em algum momento puxadas por trabalhadores ou elementos progressistas dos estratos médios da sociedade; principalmente durante o processo de revolução burguesa, onde os subalternos contando com seus próprios instrumentos de luta (movimentos populares, sindicatos e o partido comunista) realizaram intervenções importantes como o levante comunista de 1935, ou a criação das ligas camponesas na década de 1960.

Voltando aos processos em si, eles ocorreram em momentos específicos, onde a burguesia enquanto classe já operava a nível global um “programa” reacionário de manutenção de seu poder, abrindo mão de seus princípios ideológicos revolucionários ou progressistas. Todas as conquistas em termos do estatuto que pode ser chamado de “direitos humanos” que a humanidade viveu desde 1848, foram duramente conquistados pelos trabalhadores em confronto direto com a burguesia. Dentre eles estão os sistemas de educação pública. Sistemas que com o tempo foram cooptados pelas burguesias de todos os países, afinal em muitos deles, era preciso consolidar a criação de um Estado Nação através da disseminação de um dialeto e costumes.

Novamente é o caso do Brasil, onde a educação foi utilizada para consolidar o idioma português no século XIX e XX. Mas como a história apesar de ser contada pelos vencedores, é contraditória e fruto de luta, houve movimentos pontuais no Brasil que defenderam a criação de um sistema de educação universal e público, com destaque para o movimento da “Escola Nova” na década de 1930, e os diversos movimentos que defenderam e garantiram o atual sistema de ensino na Constituição de 1988.

O movimento dos anos 30 terminou por ser cooptado e ajudar na constituição de um sistema de ensino técnico que formou a mão de obra que veio a trabalhar nas indústrias do país. O da atual constituição não teve nenhum ano desde que foi instituído que não foi alvo de ataques, por parte do Estado ou por parte da iniciativa privada. Assim, inovações como Planos Nacionais de Educação, são cooptados, em sua essência; a profissão de professor é cada vez mais erodida de direitos, tornando-se descartável; os orçamentos educacionais são cortados; e mais recentemente as escolas públicas passaram a ser “terceirizadas” ou então fechadas.

Mas o povo brasileiro não aceita esses ataques de forma calada, há resistência, professores apanham de policiais, mas ainda fazem greves; e agora, como reação ao fechamento de escolas no estado de São Paulo, os alunos desses colégios reagiram e passaram a ocupar as escolas que serão fechados. Começou com a Escola Estadual Fernão Dias, em Diadema, e agora se espalha para pelo menos em outras quatro escolas na grande São Paulo.

Esses estudantes estão fazendo história, estão cansados do descaso que permeia o ensino público no estado de São Paulo, com suas salas lotadas, com os professores em contratos precários (e por isso muitas vezes mudando de escola todos os anos, não criando um vínculo fixo com alunos e comunidade) e com salários baixos; com a péssima condição das escolas, muitas em prédios antigos e muito quentes, ou então com falta de material, seja para os alunos, seja para os professores fazerem aquilo para o qual eles são pagos, que é ensinar.

Diante da falta de diálogo da Secretaria de Ensino, os alunos não tiveram outra alternativa que não fosse ir para a ação direta, estão inclusive, ensinando os próprios professores. O desmonte da escola pública, tem como um dos pilares a destruição da carreira docente, os professores como já dito não criam mais vínculos de trabalho fixo com o seu local de trabalho, disputando aulas como se fosse de fato em um leilão, eles são obrigados a montar padrões em locais muito distantes, soma-se a isso as condições de trabalho, que foram desmontando uma das categorias mais aguerridas, que hoje dificilmente entra em greve e foi assolada por ideias reacionárias, que veem os alunos cada vez de forma mais preconceituosa.

Assim, ao assumir o protagonismo – que é a base do ensino no estado de São Paulo, o tal do “protagonismo juvenil” – os alunos estão agindo como sujeitos históricos, é óbvio que não dá para exigir deles a liderança da revolução, mas devemos nos solidarizar e somar à suas lutas, até porque, o governador “marechal” Alckmin dá pistas de que agirá com a truculência habitual que toda a população do estado está acostumada, ao invés do diálogo, a Policia Militar para reintegração de posse. Causa espanto o zelo com que o governado trata os prédios ocupados, prédios que o mesmo, há semanas indica que fechará e desviará para função outra que não seja o ensino ou o atendimento público.

Num ano em que a categoria docente foi tão atacada, e portanto, a educação pública como um todo, é um alento saber que os alunos ainda estão dispostos a surpreender, e ir atrás de seus direitos, a educação pública e todos aqueles que por ela lutam, os saúdam e os agradecem pelo importante exemplo histórico.

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